Era uma vez uma menina esperta para idade e cheia de curiosidades.
Se havia uma coisa que a deslumbrasse completamente, era a natureza!
Como o trajeto que se fazia da escola à sua casa para encurtar o caminho, não passava veículos, ela sempre voltava em companhia dos irmãos mais velhos, correndo atrás dos passarinhos, só para ver até aonde poderia alcançá-los antes que voassem tão alto.
Ela estava bem perto de completar os sete anos...
Finalmente acabaram as férias e aquele era o seu primeiro dia de aula com a nova professora.
Ela estava tão animada e ansiosa!
Sempre gostava do primeiro dia de aula para rever os amiguinhos, fazer novos...
O primeiro dia é sempre leve...
A professora iniciou a aula contando estorinhas e fazendo desenhos para ilustrá-las. Ela parecia gostar muito de desenhar, mas os desenhos eram todos padronizados: a mesma casa parecendo uma capela, o mesmo gato com uma bola sobre a outra, a mesma árvore sem flores nem folhas, a mesma menina sem roupas...
Primeiro desenhou uma casa.
No segundo desenho a professora perguntou:
- Alguém sabe que desenho é este?
Aquela menina de fértil imaginação e nada tímida, levantou uma das pequeninas mãos e respondeu mais que depressa:
-Um espanador, né, professora?
(A professora não gostava de ser chamada de tia. Foi a primeira coisa que avisou ao se apresentar.)
Todos os coleguinhas riram quando ouviram a resposta da pequenina.
A professora pediu silêncio e disse:
-Não, florzinha!
E ela perguntou gesticulando com as mãozinhas:
-Então o que é?
A professora perguntou a turminha e todos responderam:
-Uma meniiina!!!
- Viu só? Uma menininha assim como você!
Ela pensou: "Uma menina...igual a mim???"
Ela tinha certeza que aquilo não se parecia com uma menina, muito menos igual a ela que estava sempre com os cabelos bem arrumados com tranças e laços de fita branca. A menina do desenho, era um traço com um monte de pelos esvoaçantes na ponta. Ela achou parecido com um velho espanador amarelo que a caprichosa mãe, tinha em casa.
Como criança vive associando tudo, imaginou que a professora desenhou o espanador para limpar a casa que antes desenhara.
A professora não discutiu sobre aquele horrendo desenho aos olhos da aluna. Apenas pediu a todos que desenhassem algo no caderno.
-Igual ao seu?- perguntou a menina, preocupada e meio acanhada.
A professora respondeu:
-Não! Podem desenhar o que quiserem!
Ela nem sabia desenhar direito mas respirou tão aliviada e fez questão de fugir dos desenhos padrões. Ela não gostava de nada padronizado mesmo...
{Nem sequer escrevia com a mão direita . O que era motivo suficiente para que a contestassem e a forçassem a escrever do jeito certo. "Certo para quem?"}
Continuando...
Todos desenharam a mesma casa parecendo uma capela, o mesmo gato com uma bola sobre a outra, a mesma árvore sem flores nem folhas, a mesma menina sem roupas...
E o desenho da pequenina parecia mais uma pintura abstrata! Porém, dentro da sua imaginação, era uma linda casa, cheia de janelas.
Talvez ela quisera desenhar um castelo ou um sobrado, como era chamado em sua cidadezinha, as casas de dois andares, embora o desenho estava mais para assombrado!
A professora foi em todas as carteiras e quando chegou a vez dela, também achou de questionar aquele estranho desenho como a menina fizera antes com o dela.
Perguntou-lhe o que era, e ela respondeu toda sorridente:
Uma casa!!! Bonita, né? Ela sempre respondia com outra pergunta!
-Isto não é uma casa. Não mesmo! - disse-lhe a professora com ar de riso, meio debochado...
Ela nem ficou decepcionada! Retrucou toda convicta:
-É a minha casa tia...( unho) professora! Quando eu ficar grande assim...Né?
Então a professora sorriu, balançou a cabeça indecisamente e deixou por menos.
Depois desse inesquecível dia, elas se tornaram amigas, cada qual com suas peculiaridades normais para o espaço em que ocupavam!
A professora não era tão cruel por não gostar de ser chamada de tia! E a menina...
Ah! A menina só queria continuar desenhando com sua mãozinha esquerda, tudo o que a sua imaginação permitisse.
(Aprendera a escrever com a mão direita, também, mas esta é uma outra historia.)
...
Ela era apenas uma simples criança, talvez, em busca inconsciente de sua liberdade de criança.
(Lu Nogfer)
Se não fosse a inocência e o sorriso da criança, a vida não teria graça e não seria um tanto doce. Portanto, ressuscite-a sempre, dentro de você.
Liberte-a para rabiscar e colorir a vida tornando-a mais leve!
Reaprenda com os pequeninos a correr atrás de uma ave, mesmo sabendo que ela voará alto e você terá apenas que acompanhá-la com os olhos.
E lembre-se: a ave talvez desapareça no infinito, mas o azul do céu...
O azul do céu estará sempre ao alcance dos olhos ampliando o ângulo mais bonito pra se ver a vida.
Um feliz dia da criança a todos, com muitos risos! E um beijo lambuzado com sabor de mel, em todos os pequeninos!