23 de set. de 2013

A História de um Pensador.


Linhas Tortas


Alguns às vezes me tiram o sono, mas não me tiram o sonho
 Por isso eu amo e declamo, por isso eu canto e componho
 Não sou o dono do mundo, mas sou um filho do dono
 Do verdadeiro Patrão, do verdadeiro Patrono

- E aí, Gabriel, desistiu do cachê?
 - Cancelei um trabalho aí pra não me aborrecer.
 - Explica melhor, o que foi que você fez?
 - Tá, tudo bem, eu explico pra vocês:

Tudo começou na aula de português
 Eu tinha uns cinco anos, ou talvez uns seis
 Comecei a escrever, aprendi a ortografia
 Depois as redações, para a nossa alegria
 Professora dava tema-livre, eu demorava
 Pra escolher um tema, mas depois eu viajava
 E nessas viagens os personagens surgiam
 Pensavam, sentiam, choravam, sorriam
 Aí a minha tia-avó, veja só você
 Me deu de aniversário uma máquina de escrever
 Eu me senti um baita jornalista, tchê
 Que nem a minha mãe, que trabalhava na TV
 Depois, já aos quinze, mas com muita timidez
 Fiquei muito sem graça com o que a professora fez
 Ela pegou meu texto e leu pra turma inteira ouvir
 Até fiquei feliz mas com vontade de fugir
 Então eu descobri que já nasci com esse problema
 Eu gosto de escrever, eu gosto de escrever, crer, ver
 Ver, crer, eu gosto de escrever e escrevo até até poema

REFRÃO
 Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
 Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
 Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
 Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

- Ih, pensador, isso é grave, hein!

É, vovó dizia que eu já escrevia bem
 Tentei me controlar, me ocupar com um esporte
 Surf, futebol, mas não era o meu forte
 Um dia eu fiz uns raps e achei que tava bom
 Me batizei de Pensador e quis fazer um som
 Ficar famoso e rico nunca foi minha meta
 Minha mãe já era isso, eu só queria ser poeta
 Meu pai, um homem sério, um gaúcho de POA
 Formado em medicina, não podia acreditar
 Ao ver o seu garoto Gabriel
 Com um fone nos ouvidos viajando com a caneta no papel
 - O que você tá fazendo? Vai dormir, moleque!
 - Ah, pai, peraí, eu só tô fazendo um rap!
 Ninguém sabia bem o que era, mas eu tava viciado naquilo
 E viciei uma galera!

REFRÃO

Não tô vendendo crack, não tô vendendo pó
 Não tô vendendo fumo, não tô vendendo cola
 Mas muitos me disseram que o que eu faço é viciante
 E vicia os estudantes quando eu entro nas escolas
 Até os professores às vezes se contaminam
 Copiam minhas letras e textos e disseminam
 Sementes do que eu faço, já não sei se é bom ou mau
 Mas sei que muito aluno começa a fazer igual
 Escrevendo poemas, escrevendo redações
 Fazendo até uns raps e umas apresentações
 Me lembro dos meus filhos e a saudade é cruel
 Solidão me acompanha de hotel em hotel
 Casamento acabou, eu perdi na estrada
 O amor que ainda tenho é o amor da palavra
 É falar e cantar, despertar consciências
 Dediquei a vida a isso e a maior recompensa
 É servir de referência pra quem pensa parecido
 Pra quem tenta se expressar e nunca é ouvido
 É olhar pra minha frente e enxergar um mar de gente
 E mergulhar no fundo dos seus corações e mentes
 É esse o meu mergulho, não é o do Tio Patinhas
 É esse o meu orgulho, escrever as minhas linhas
 Escrevo em linhas tortas, inspirado por alguém
 Que me deu uma missão que eu tento cumprir bem
 Escuto os corações, como um cardiologista
 Traduzo o que eles dizem como faz qualquer artista
 Que ganha o seu cachê, que é fruto do trabalho
 De cigarra e de formiga, e eu não sei o quanto eu valho
 Mas sei que quando eu ganho, divido e multiplico
 E quanto mais eu vou dividindo, mais fico rico
 Rico da riqueza verdadeira que é de graça
 Como um só sorriso que ilumina toda a praça
 Sorriso emocionado de um senhor experiente
 Em pé há duas horas debaixo do sol quente
 Ouvindo os meus poemas em total sintonia
 Eu sou ele amanhã, e hoje é só poesia.

REFRÃO...

(Gabriel O pensador)



Achei muito interessante a história do Gabriel nesse Rap.  Não conhecia!

E por falar nisso, eu não consigo entender o porquê de tanto preconceito com relação alguns gêneros musicais.
Curtir ou não curtir, tudo bem. É apenas questão de gosto. Mas preconceito?
Tudo é poesia, tudo é arte e nada tem a ver com caráter, concorda?

Um forte e carinhoso abraço em todos.




14 de set. de 2013

Definição de Saudade


Como médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional (...) posso afirmar que cresci e modifiquei-me com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.

 Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional... Comecei a freqüentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria. Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes do câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento das crianças.

 Até o dia em que um anjo passou por mim! Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por dois longos anos de tratamentos diversos, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de químicos e radioterapias. Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar. Vi-a chorar muitas vezes; também vi medo em seus olhinhos; porém, isso é humano!

 Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

 — Tio, — disse-me ela — às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores... Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

 Indaguei:
 — E o que morte representa para você, minha querida?
 — Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos em nossa própria cama, não é? (Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, com elas, eu procedia exatamente assim.)
 — É isso mesmo.
 — Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

 Fiquei "entupigaitado", não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade com que o sofrimento acelerou, a visão e a espiritualidade daquela criança.
 — E minha mãe vai ficar com saudades — emendou ela.

 Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:
 — E o que saudade significa para você, minha querida?
 — Saudade é o amor que fica!

 Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
[...]
 ( Artigo do Dr. Rogério Brandão- Médico oncologista)

"Saudade é o amor que fica!"
Achei isso tão cheio de verdade! Tão bonito!
Sem mais palavras...


Obrigada a todos pela companhia.


Abraços.


9 de set. de 2013

Com a palavra: Felisberto Júnior.


Equilíbrio...


"A dosagem é a medida natural de todas as coisas, conhecendo cada situação e cada sentimento para nos tornar hábeis em nossa caminhada. Porém,os sentimentos de nosso coração, a perturbação de nossas paixões e a impetuosidade de nossas emoções, dissipam todas essas conclusões...e nos faz adotar um novo paradigma segundo o qual nos sentimos a vontade da forma que somos, e aceitar nossa personalidade como ela é mesmo... A dualidade é intrínseca ao nosso ser e apenas quando a abraçamos é que encontramos o equilíbrio em nossa vida. "

Autoria:  Felisberto Júnior
Direitos Autorais Reservados ®

Este texto vem de um comentário a um dos meus poemas no Asas dos Versos. Achei muito pertinente e por isto estou partilhando neste espaço. E quem quiser conhecer o blog do amigo Felis, clik aqui. Ele escreve muito bem e eu super recomendo!

Obrigada a todos que tem passado por aqui e pelos colaboradores que direto ou indiretamente tem contribuído para belíssimas reflexões neste espaço que é de todos.

Abraços de paz!

Lu Nogfer.

1 de set. de 2013

Celebra Sempre...


Celebra sempre...
Hoje o sol veio de mansinho
na janela de teu quarto te acordar,
e o dia se encheu de brilho
querendo também celebrar.

Celebra sempre...
Hoje o sol não apareceu,
mas por detrás da sombra há luz...
Espera a nuvem se dissipar;
o tempo de espera nos motiva a acreditar.

Celebra sempre...
Hoje a tristeza te acometeu,
a fé que te mantém, estremeceu...
Não permitas que ela se vá,
nada é eterno, tudo passará.

Celebra sempre...
Os mesmos sinos que choram a morte
também se dobram em grande porte
anunciando a vida, a alegria,
a esperança no novo que virá.

Celebra sempre...
Ainda que teu sonho tenha ultrapassado
os limites de onde conseguirias ir,
não desistas, invistas nas possibilidades...
Novos sonhos hão de vir.

Celebra sempre...
Troca o pranto por um sorriso,
a felicidade chega sem aviso
se abrires a porta para ela entrar...
E verás que valeu a pena
teres vivido sempre a celebrar.

(Carmen Lúcia)