27 de mai. de 2013

Vida Vazia



Carol estava tão feliz com a mudança de vida! Mudou-se da antiga e ampla casa da mãe, para uma casa pequena. Porém aconchegante e perfumada.
O som que ressoava docemente pelos cômodos, vinha da caixinha de música do quarto do bebê recém-nascido. Uma linda menina!
O álbum de fotos do casamento da mãe estava bem à amostra na estante da sala de estar. Nas fotos dava para ver a grande quantidade de presentes que a mesma ganhara no casamento.
— Meu Deus, como ela detestava bugigangas! – era como ela chamava as coisas mesmo novas, mas sem uso – contava a filha. — Não sei por que não usou quase nada!
Talvez não tivesse gostado dos presentes de casamento ou preferiu usar as coisas que pertencia à família já na terceira geração de filhas únicas. Ela não abria mão de nada. Deixava claro que quando a filha se mudasse de lá, levaria apenas os bibelôs de porcelana que pertencera à bisavó. Porém, trincaram-se todos dentro da velha cristaleira com os pés apodrecidos pela umidade que vinha do assoalho.
— Ainda esta lá do mesmo jeito. – dizia a filha. A enorme casa também, caindo aos pedaços!
Há tempos reformaria aquela casa, mas não o fez. Não por falta de condições financeiras, mas sempre preferiu adiar para o próximo ano. A vida inteira adiava tudo para o próximo ano.
O tempo foi passando, passando e tudo estava igual como nos velhos tempos.
Agora viúva, aquela mulher de rugas precoces, olhava as paredes rachadas e emboloradas com o olhar lacrimejado e melancólico. Andava pela casa como se procurasse algo além de simples objetos. Resolveu remexer nos guardados, pois sentira falta do álbum de retratos que lhe trazia boas recordações. Esquecera que havia pedido a filha para levá-lo para restaurar.
Abriu todas as portas e gavetas dos antigos armários, espalhando assim o cheiro de naftalina pela casa. Caixas e mais caixas de objetos sem uso. Abriu na cama a colcha de crochê branca, já amarelada pelo tempo. Uma das poucas peças do próprio enxoval, que nem chegara a terminar.
— Que coisa mais fora de moda. – exclamou meio ranzinza. Até que está combinando com a cor envelhecida dessas paredes!
Falava balançando a cabeça, parecendo inconformada com o próprio comodismo.
Enquanto o marido trabalhou fora, passou a vida olhando pela janela, fazendo planos e planos, porém nunca tentou realizá-los ou compartilhá-los. Ainda que desejasse, nunca terminava o que começava. Ia empurrando para frente. Adiando para outro ano, para outra época...
Por  ver a vida passar sem perceber, que só após ter ficado sozinha naquela velha casa, percebera as tantas coisas que ficaram por aí pela vida. Tudo pela metade. A colcha de crochê, o interminável magistério, a casa por reformar...
Até a própria região que sempre quis conhecer melhor, nunca ultrapassara o limite de sua cidadezinha.
Apenas cinquenta e poucos anos. Ainda daria tempo para muitas realizações. Mas se antes quase não saia, muito menos agora que já não tem mais tanta saúde e nem paciência para concluir os projetos que ficaram para trás.
Sentada numa velha cadeira de balanço, ficou ali observando tudo, horas e horas...
Estava com os pensamentos tão distantes, que custou a ouvir as batidas ocas na velha porta...
Era a filha acompanhada da neta para presenteá-la com o que ela tanto procurava!
O álbum de retratos novinho em folha, um pouco de choro de criança e muita alegria para preencher aquela vida, que de vazia não tinha nada.

(Lu Nogfer)
Participação no evento Contos e Prosas

14 de mai. de 2013

Quer saber o que eu penso?

...Você aguentaria conhecer minha verdade?
Pois tome. Prove. Sinta.
Eu tenho preguiça de quem não comete erros.
Tenho profundo sono de quem prefere o morno.
Eu gosto do risco.
Dos que arriscam.
Tenho admiração nata por quem segue o coração.
Eu acredito nas pessoas livres.
Liberdade de ser.
Coragem boa de se mostrar.
Dar a cara a tapa!
Ser louca, estranha, chata!
Eu sou assim...
Tenho um milhão de defeitos.
Sou volúvel.
Sou viciada em gente.
E adoro ficar sozinha..
Mas eu vivo para sentir...

Por Clarice Lispector

12 de mai. de 2013

Mãe: palavra doce e sublime...


Mãe é aquela que ampara, que protege, que perdoa incondicionalmente;
É aquela que não mede esforços, que faz de tudo sem esperar retribuições;
É aquela que se entrega por inteiro, se doa, se preocupa, se comove;
É aquela que sofre, ri e chora com a dor ou a vitória do amado filho.
 Mãe não é apenas aquela que põe no mundo, é aquela que de fato, ama e cuida...

Neste lindo dia, quero desejar à minha doce mãe e a todas as mamães do mundo, sejam  elas mães geneticamente ou mães de coração...

Agradeço o doce mimo da amiga Gracita em homenagens às mães.


Carinhosamente...

Lu Nogfer

6 de mai. de 2013

As Palavras Em Mim...


Escrevo porque as palavras não se calam
Elas me cercam, me divertem.
Invadem o meu deserto,
O meu recanto e o meu silencio.
Brincam, bailam, riem, choram
Afloram meus pensamentos
E não se calam em mim...

As vezes surgem em forma de canto
Em outras são o meu pranto
As vezes são nítidas e profundas
Em outras,  obscuras e confusas
Mas não se calam em mim...

Elas chegam sem prévio aviso
Falam alto aos meus ouvidos
Outras sussurram...
Nem sempre o certo
Nem sempre o insensato
Mas nunca se calam em mim...

Elas têm sempre algo a dizer
E eu acabo por me envolver
Então escrevo, escrevo, escrevo...
Não me pergunte não sei o porquê
Não me contaram os seus segredos
Apenas se manifestam em meus dedos
Só sei que não se calam em mim...

Elas chegam contando histórias
Me falam de coisas da vida
De coisas descabidas
De amor sem medidas
Me falam do passado
Me falam do presente
Jamais se calam em mim...

As palavras são destemidas
Me encorajam e me fazem viajar
Numa dimensão sem limites
Me profetizam, são minha sina
E nunca determinam um fim
Elas não se calam em mim....

Por Lu Nogfer

1 de mai. de 2013

Gerundiando

Amando e sonhando
Trabalhando e relaxando
Sorrindo e cantando
Errando e acertando
[...]

Enquanto houver
Esta vontade de vida
Imensa em mim,
Que ar não me falte por dentro,
Pra conjugar  este bom tempo,
E viver bem vivida
Esta vida bonita, meu Deus

(Lu Nogfer)


Voltei, gente bonita!

Abraços e carinho.